sábado, 16 de abril de 2011

Transitoriedade centrípeta.

Nunca fui de contar o tempo
Sempre quis descobri-me envelhecido
às custas da umidade de minha pele
e da gradativa falta de bilho nos olhos.

Rego as flores para que elas sobrevivam
ao calor exuberante que flutua
no asfalto da rua lá embaixo.
Rego as flores que nascem 
no asfalto da rua lá embaixo.

Nego que o asfalto da rua lá embaixo tenha dado a flor que vi nascer.

Sinto uma súbita novidade invadindo-me
em pequenas doses
do tamanho de cubos de açúcar
– daqueles que colocamos no café –.

A novidade é doce.
A vontade é insone.
O leite foi derramado
e o teremos de lamber no chão
para sentir o gosto do mundo.

Agora já sinto o rosto
e o vento atravessando-o.
Agora ja sinto o gosto
e o tento esconder da minha boca.
Caminho pelas ruas do descontentamento
como um fugitivo que volta à cidade que o subjulgou
depois de anos.

Tento obnubilar pessimismos
inocentemente confiantes de si
- os que pretendem dedicar-se a desacreditar a vida -
e me choco com a impreterível realidade
da invalidez das tentativas ousadas
do cerne da minha questão.

Dei-me em carne e sangue
e o faria o quanto fosse necessário
se isso fizesse com que eu repetisse
tudo de novo.

domingo, 3 de abril de 2011

Outono na cidade

As pedras-à-beira-mar do arpoador brilham ao serem banhadas pela água do mar como um diamante bruto em erosão. O limo que a cobre assobia num tom melodioso e calmo quando a brisa que evapora toca a pele desse que aqui vos fala.
Já é outono e não se é mais queimado pelo sol;
se é conduzido a queimar-se.
Já não se vê mais flores nas árvores;
as catamos no chão.
O sol já dorme mais cedo
e a noite acorda à tarde
com preguiça de levantar.
É outono na cidade...
Agora se busca calor no abraço dos corpos,
na saudade dos amores
e nos rabiscos dos poetas...