domingo, 28 de fevereiro de 2010

LED

Leiam ao som de: http://www.youtube.com/watch?v=3f-mzWy-lT0
Amazing Grace - Jeff Beck & Carlos Santana


Descobri no sábado 28/02/10 que Luis Eduardo ou se preferirem LED morreu. Morreu a quase um mês já.

Pra quem não está entendendo nada, eu vou tentar explicar em poucas palavras, mas antes tentar explicar o porque de um post para falar disto: No colégio em que fiz meu ensino médio havia algo em torno de nossa convivência que nos fazia mais do que alunos e professores. Nos fazia humanos, amigos. Mesmo que nunca mais nos víssemos depois dali aquilo perduraria dentro de nós. E perdura agora. Sou eternamente grato a todos que lá me ensinaram a crescer e me preparar pra faculdade (não estou dizendo pro vestibular, estou dizendo pra faculdade).

Uma dessas pessoas foi um professor de biologia extremamente modesto ("só existem dois tipos de alunos: os que me acham o melhor professor do mundo e os que não me conhecem" LED) e que tinha consciência da sua capacidade como professor. Mais importante do que isso, ele amava o que fazia. E mesmo doente a algum tempo NUNCA parou de dar aula, a não ser quando era biologicamente, fisicamante e humanamente impossível por causa das suas internações.
Um homem que amou sua profissão, amou as aulas de deu, amou os alunos que teve, amou sua mulher e sua filha, amou seu colégio e amou sua cidade. Um homem que realmente pode ser chamado de professor. Um homem que agora morreu, mas que permanecerá eterno nos corações que conquistou.
Obrigado, LED, por me dar o PRAZER de conviver com você. Obrigado, LED, por me ensinar biologia. Obrigado, LED, por me fazer sentir orgulhoso de estar sentado de frente pra um dos maiores professores de biologia do Rio de Janeiro. Carregarei a imagem de você no tablado de frente para mim, ja sentado debilitado, ou as vezes em pé com mais energia do que possuía, para sempre.

Eu não passei em biologia no vestibular da UFF para cinema. Acabei fazendo outra faculdade de cinema... Mas biologia nunca foi meu forte mesmo. Meu forte foi sempre reconhecer grandes seres humanos. Você é um deles.

Não consigo mais escrever, estou chorando. Vou procurar teu cemitério, acharei, e lhe entregarei flores. Você merece!

sábado, 27 de fevereiro de 2010

A Obra

Uma pintura.
Riscos em vermelho bem tingido
Que se afastam em direção oposta
Mostrando em seu interior manchas brancas que brilham quando sorriem.

Mais acima escorrem ao contrário pela tela ainda fresca
Traços em rosa e azul mal delineados que se ligam de uma ponta à outra
Apertados e bem abertos
Revelando um castanho escuro pela falta de luz
Mas claro pelo brilho da verdade que transparece
Como quem analisa e adimira ao mesmo tempo uma pela pintura.

Em volta da tela vê-se tinta escorrendo
Como algo que foi lançado em forma de bombardeio
Explodiu e seu sangue marrom claro, brilho do sol
Agora percorre (como quem segue o trilho de uma montanha russa em caracóis)
Toda a tela até o final.

Por entre a tinta que desceu ainda vê-se todo o resto da vivacidade de cores das quais citei
E das quais não citei
Pelo simples fato de ter medo da descoberta inevitável
Que farão ao ouvirem o resto da minha descrição e logo após tiverem a comprovação.

Sinto o cheiro de tinta, ainda fresco
Como se a obra tivesse acabado de ser feita
E ainda não tivesse dado tempo de ser copiada
Justamente por não ter sido exposta.

Talvez o quadro nunca seque
Pra mim ele permanecerá
Ainda fresco
Como se a obra tivesse acabado de ser feita
E nunca será copiada, por mais que se exponha.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

02:34

Não quero falar sobre isso
Não quero falar simplesmente pelo fato de que...

Esse assunto nem deveria estar passando pela minha cabeça dessa maneira
Na verdade não quero nem pensar sobre esse assunto
Ele ja era pra ter sido resolvido
Mas eu ainda insisto em acordar a noite ir até a cozinha e tomar um copo d'água
Só pra ficar abrindo a geladeira e ter motivos para pensar 
Sobre as milhões de questões que continuam querendo invadir meus pensamentos
Logo durante a hora de dormir

Talvez não seja a hora de dormir
Mas porque eu ficaria acordado?
Tudo que eu tenho pra pensar eu posso deixar pra pensar amanhã
Resolver amanhã...
Posso dormir com a bela canção de ninar da Consul,
Meu copo d'água ficaria à mesa de cabeceira
Um maço de cigarro ao alcance (para o caso de a insônia ser devassa)
E pronto!

As pessoas tem pressa.
E dizem que não pode deixar pra amanhã o que se pode fazer hoje.
Hoje
Hoje, hoje, hoje, hoje, hoje.
Porque não amanhã? Quando meus pensamentos já vão estar mais organizados,
Quando meu sono vai estar recuperado, quando minhas decisões ja vão estar meio encaminhadas
pelos meus sonhos.
Elas tem pressa. Tem pressa até de viver alguma coisa que eu agora prefiro chamar de "filosofia da geração"... ou ideologia...
E essa particularmente as vezes parece querer ser alguma coisa que foi confundida com ter pressa.

E por falar em filosofia, vamos deixá-la de lado no que tange as reflexões sobre o hoje e o amanhã.
O amanhã para mim - indivíduo prestes a dormir - existe.
Se não existisse não teria compromissos para amanhã.
Ah!
A propósito, ja é amanhã. Ou melhor, amanhã ja é hoje!
Não preciso mais me preocupar
Irei dormir hoje, e acordarei hoje ainda!
Não mais debaterei nem declararei guerra as filosofias de vida mal interpretadas por esses sonambulos mal resolvidos com a própria cama!

Quanto aos meus pensamentos.. eles não vão fugir.

Apaguei a luz, agora confiante de que dormirei sem aflições temporárias
Daqui a alguns minutos desligarei deitado por algumas horas
Meu sono será eterno até eu acordar.

Mudarei o mundo assim que eu levantar da cama.
Há quem chame isso de preguiça...
Se for,
Cuidarei dela quando acordar... amanhã.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Lado B

O encômodo encomoda mais quando os encomodados fazem de si acomodações de parasitas incomodativos, sem perceberem.
Perdem seus sensos de lucidez.
Ganham sensos de moralidade inadequada
Permanecem ativos, desprovidos de alma...
Calma.
O encômodo do qual eu falo não é contagioso nem patogênico.
Nasce quando nascemos
Não morre enquanto vivemos
Mas pode ser vencido enquanto os temos, para sempre.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Circo de horrores

Não quero mais que chamem as pessoas de palhaço
Não aguento mais ver a palhaçada que anda rolando neste circo de horrores
O tabuleiro de xadrez está ficando colorido
Enfiaram estacas, e colocaram uma lona
Parece que vão se apresentar ali
São palhaços assistindo palhaços.

Não, não são.
Acabaram com a imagem do palhaço. O que estão fazendo com as crianças do nosso país?
Estão comparando a inércia e cafonice deles com um palhaço, comparando o mau caratismo e repugnância de políticos com um palhaço. Que criança crescerá não reconhecendo na figura de um palhaço tudo isso?
O palhaço.
Figura única, ainda criança, pura, inocente ser de um mundo que não a merece mais.
Os palhaços deviam morrer e virar santos:
Sujam seus nomes e ainda sim eles viajam o mundo carregando sementes das quais o mundo ja esqueceu de plantar.

Salve palhaço, eu gosto de você.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

No calçadão de Icaraí

Coisas estranhas
Que pessoas estranhas chamam de pensamento
Me enlouquecem pelo simples fato de que pensar em minha lucidez maquinante
Trabalhando a todo vapor por qualquer pombo que lança vôo em câmera lenta
No calçadão de icaraí
Me faz ter mais dúvidas em relação a  minha capacidade de suportar esse fardo do ser humano
Como coisa real e insignificante.

Se olharmos em volta somos qualquer um
Se olharmos de cima somos todo mundo
Se olharmos de fora somos ninguém
Se olharmos de longe (da terra) somos nada
E os meus pensamentos me tornam único
Na capacidade de ser insubstituível
Ser necessário para mim mesmo quanto ser humano

Talvez a máquina à vapor precise ser substituída
Modernizada.
Coração.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Reflexão

Em 05/02/10, tavinho paes escreveu:
MEUS CAROS,

... perdão: é verão, tá quente, tem carnaval, NINGUÉM QUER SABER DE NOTÍCIA RUIM E PENSAR DÓI e eu, sendo poeta, deveria ficar só fazendo poesia que é um pouco menos chato do que política!
... mas, lendo o Le Monde Diplomatique, achei que deveria pensar um pouco a respeito de dados que fui recolhendo em 5 matérias diferentes e em diferentes edições do jornal e mixei num artigo só...
... é curto, informativo; mas não é obrigado a ler nem comentar ou passar adiante!


ai de ti, haiti

.... achei esquisito: em apenas uma semana o Pentágono mobilizou para a ilha do Haiti um porta-aviões, com 33 aviões de socorro e 6 F-14  TOMBCATs; 6 navios de guerra (incluindo um destryer nuclear e dois cruzadores), além de 11 mil soldados. 
A Minustah, missão da ONU para a estabilização do Haiti chefiada pelo Brasil, tinha apenas 5 mil soldados. 
Porque será?Sabemos que a hegemonia dos EUA no seu “quintal” tem uma pedra no sapato: o Brasil democrático dos dias de hoje; e nele, a situação geopolítica global é a seguinte.

– o petróleo é uma riqueza importante; mas é preciso extraí-lo e transportá-lo, o que significa investimento, e, em consequência, estabilidade política. 
– será que o Brasil já é uma potência global:
Avaliem o seguinte:

– O Brasil é o segundo dos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), ficando atrás em importância apenas da China. 

– dos dez maiores bancos do mundo, três são brasileiros (e cinco chineses). Nenhum destes dez bancos é norte-americano ou inglês. 

– o Brasil tem a sexta reserva mundial de urânio (com apenas 25% de seu território investigado) e estará entre as cinco maiores reservas de petróleo quando for concluída a prospecção da bacia de Santos. 

– as multinacionais brasileiras figuram entre as maiores do mundo. A Vale do Rio Doce é a segunda mineradora e a primeira em mineração de ferro; a Petrobras é a quarta empresa petrolífera do mundo e a quinta empresa global por seu valor de mercado; a Embraer é a terceira empresa aeronáutica, atrás apenas da Boeing e da Airbus; o JBS Friboi é o primeiro frigorífico de carne de gado bovino do mundo; a Braskem é a oitava petroquímica do planeta. E por aí vai...

– ao contrário da China, o Brasil é auto-suficiente em energia e será um grande exportador. 

– nossa maior vulnerabilidade, a militar, pode ser superada graças à associação estratégica com a França. Nesta década, o Brasil fabricará aviões caça de última geração, helicópteros de combate e submarinos devido à transferência de tecnologia francesa. 

– dados do FMI confirmam: até 2020, se não antes, será a quinta economia do planeta. 

– o Brasil já controla boa parte do Produto Interno Bruto da Bolívia, Paraguai e Uruguai, tem uma presença significativa (no mínimo) na Argentina, da qual é sócio estratégico, assim como no Equador e no Peru, porque estes facilitam seu acesso ao Pacífico.

E tudo isso ocorre debaixo do nariz dos EUA. Aí está o osso mais duro para a IV Frota.

O Pentágono desenhou para o Brasil a mesma estratégia que aplica na China: gerar conflitos em suas fronteiras para impedir sua expansão e influência, a exemplo da Coréia do Norte, Afeganistão, Paquistão, além da desestabilização da província de Xinjiang, de maioria muçulmana. 
Na América do Sul, uma constelação de bases militares do Comando Sul circunscreve o país pela região andina e o sul. A pinça se fecha com o conflito Colômbia-Venezuela e Colômbia-Equador.
Agora contará com o porta-aviões haitiano, que desloca da ilha a presença brasileira, até agora dominante, à frente da Minustah. É uma estratégia de ferro, friamente calculada e rapidamente executada. 

O problema a ser enfrentado pelas nações e povos da região é que as catástrofes naturais serão uma moeda de troca – e um grande pretexto - nas próximas décadas. Isso é apenas o começo. A IV Frota será o braço militar mais experimentado e melhor preparado para intervenções “humanitárias” em situações de emergência.

Aliás, o que vem ocorrendo no Haiti é apenas a prática mais atualizada daquilo que Naomi Klein chama de “Capitalismo de Desastre” – vide tsunamis, katrinas, iraques & outros onze de setembro – e o terremoto do Haiti literalmente caiu do céu para os rapazes de Washington. 

PRA TERMINAR: vou citar Condoleezza Rice, a fada madrinha das hecatombes neoliberais, em nota ao Congresso Americano após o Onze de Setembro: ”Esta é uma oportunidade maravilhosa!!!!!!!!!!!!!!”

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A noite

"Hoje finalmente eu vi o coelho na lua, "literalmente". Mas parece mais um cachorro do que um coelho. Só vi porque me mostraram, e mesmo assim discordei do pobre coelho. O coelho não uiva pra lua.. Os cachorros sim e seus parentes mais próximos, os lobos, também. Talvez eles se vejam também na lua. Há muitas teorias, muitas sobres os cachorros... Deixo-as para depois..."

 

A noite mais linda de janeiro
Quando finalmente no ultimo dia do primeiro mês do ano
O céu se escurece à sua perfeição

A lua quieta
Calada
Encherga o mundo inteiro
Sem pedir licença para as nuvens

O céu limpo
Negro-azulado
Cobre o mundo inteiro com seu manto
E enchuga o pranto do adeus do sol

Embala pela noite num blues
Cantado em voz baixa
Como quem fala ao pé do ouvido
Frases de amor

Bêbada de escuridão
Anda pelas ruas iluminadas pelo reflexo nas janelas das casas
Nadam em piscinas, agora azul escuras
Refletidas em paredes brancas

As estrelas brilham tanto
Que parecem conversar com você
E não se incomodam com as luzes amarelas lá de baixo
Que parecem em vão
Esconder sem motivo
A beleza vista por poucos que permanecem acordados
Esperando ela chegar: a noite.

E conversam com a lua
Recitando poesias em sua homenagem...
Ela não sabe falar
Mas fale você
Ela consegue te ouvir.

Um papel e uma caneta

Agora sim
Sinto-me e enchergo-me sem nenhum pudor
Assim como Adão sente e encherga sua própria nudez

No passeio enraizado
Dentro de um avião que dá piruetas pelo céu
Descubro em letras tremidas no papel
A completa inocência do meu ser
(Não que ela seja ruim)

Boio em marolas massageantes
Deitado num colchão de águas calmas
Azuis como o brilho eterno
De uma lua que ilumina a tinta no meu papel riscado
Uma lua que só se vê quando não se dorme

Vejo em cada letra
Uma página de um belo livro de histórias
Traduzido em desabafos mudos e solitários
Por mãos iniciantes na arte de se descobrir novo
Por pensamentos surpresos em se descobrir criador

Passeio pelas copas da árvores
Como quem pisa em nuvens
Esquecidas por sua grandeza
Veneradas (quando percebidas)
Pela sua beleza

Estico minha mão para pegar algumas maçãs
Em meio a malabarismos no sinal vermelho
Focalizando cada fruta ao jogá-las para cima
Como miniaturas do meu mundo, agora mudado
Mutável

Me sinto como um menino atento
Atento e inocentemente menino
Com seus olhinhos fixos em sua arte
Cabeça levantada
Boca aberta
Língua pra fora presa aos dentes

No exato momento em que joga seus mundos para cima
Como se quisesse malabarizar sua vida
Transformá-la
Pelo simples prazer de ter descoberto
Que ela agora parece ser muito mais
Do que uma maçã tirada da árvore

Descobri na maçã outra vida
Achei o coelho na lua
Reescrevi textos dos livros de páginas em branco
Apagadas pela mesmice do dia seguinte

Agora sim
Sinto-me e enchergo-me sem nenhum pudor
Assim como Adão sente e encherga sua própria nudez
Assim como um louco sente e encherga a própria lucidez
A magia, inocência e despudor de um beijo pela primeira vez