segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Cocar


Achei no fundo do meu armário
Uma pena
Uma pena que parou de voar
Pintada com cores do poente
Bronzeada por um sol tropical
Pousou em areias
Banhadas por águas da guanabara
Trazida pela brisa do oriente
Foi nomeada em lingua "Tupiniquim"
Uma pena agora manchada pelo tempo
Desgastada de cimento
Viciada pelo esquecimento
Que escreve em tintas vermelhas do sangue da sua árvore
(Aquela, genealógica? Pode ser.)
Sobre suas heranças e descendências
Uma pena que parou
Mas não esqueceu como se voa
E sempre decola em sua canoa
Quando é achada no fundo de cada armário


"Quando somos crianças aprendemos a colocar a mão na boca para gritar que nem índios. Quando crescemos, colocamos a mão na boca para bocejar."

domingo, 13 de dezembro de 2009

"ELA, "





Essa foto que aparece aí é a chamada para o meu curta que, infelizmente, teve que ser adaptado para 3min50. O sufoco para usar imagens, que foram filmadas de uma maneira que não permitisse uma edição mais maleável, foi grande mas felizmente prazeroso - como não haveria de ser?. Esse é o primeiro passo para focar no meu sonho: Direção de cinema. Espero que gostem!

http://www.youtube.com/watch?v=1pW-6L-4PtE

Cara certo

Eu sou a melhor mentira que você poderia escutar
Sou o pior cara normal que você poderia escolher
Venha,
Saboreie, afinal, as bobagens que eu faço
com a única inteção de não te perder.

O Futuro da Humanidade

Chora,
Suas lágrimas ja não bastam.

Almas e poetas loucos declamando poemas lúcidos
em mesas de bares enxugadas pela saudade.
É mais antiga que a própria poesia feita à beira da esquina mal iluminada que corta seus pensamentos

Abre-se o palco sem brilho e sem cor
Um palhaço sem máscara
Um elefante voador
Atirando amendoins como balas de um revólver
A menina sorri ingenuamente para o palco vazio
Espera ansiosa a entrada de um novo amor

Suas lágrimas não podem lavar o chão
A apresentação foi adiada
A festa cancelada
A casa foi fechada...
Mais uma geração que espera...espera...
E descobre depois que tinha que ter chutado a porta
Dado a cara a tapa
Entrado sem pedir licença.
Ter subido ao palco e feito seu próprio espetáculo.

Esqueceram-se de si, lá fora.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Bom dia.

Acorda, mas finge que o despertador não está gritando dentro da sua bolsa.
Acorda porque eu estou ali do seu lado te vendo dormir.
Finge que ainda é noite e continue na cama
É.. Eu desliguei as luzes e fechei as janelas para você não ir
De propósito
Estava bom assim, sem saber que agora temos que levantar
Depois de toda essa semana...
Eu te sirvo o café
Leio um poema
Te faço um carinho só para poder te ver dormir denovo
Não presisa ir para o trabalho agora
Arranjo uma desculpa pro seu chefe
O carro, um inesperado, a chuva que cai lá fora.
Ainda está frio.
Deixa eu te abraçar e pensar que as estrelas que estão desaparecendo no céu
só estão se escondendo para continuar nos vendo amar
o agora
o onde
E rir do plano - brilhante plano - que criamos para enganar a rontina do mundo inteiro
só por mais um dia.

De você e de mim para mim mesmo

Não, não pare de falar
Sabe que eu adoro quando começa a falar
Gosto do gosto da sua voz
Até as músicas param de tocar...
Olha!
Os passarinhos até pararam de cantar

só para estudar o que tem a dizer
Eles ouvem que me ama
Sabe que gosto quando me ama

Estou aqui de novo
Ouvindo.
Ouço seu coração
Ele diz que me ama
E dessa vez eu vou escutá-lo
Enquanto você mexe a sua boca tentando mastigar palavras indigestas
Escondendo de você mesmo o que quer me dizer

Aprendi a te ouvir.

ABCDescubra-se

"- Tem coisas que eu não sei dizer...
- Diga do jeito que sabe e com o tempo você vai aprendendo a dizer do jeito que quer..."


Depois desta simples e pequena conversa, 
eu fico imaginando como deve ser para as pessoas 
que nem descobriram ainda que lhes foi dada a permissão de falar, 
a partir do momento que aprenderam a fazê-lo.
Aprenderam mas esqueceram.
Depois disto me vir a cabeça, 
fico imaginando quantas coisas na vida 
as pessoas deixam de fazer, 
perdem e sofrem por acreditar simplesmente que existe uma maneira boa de se viver. 
Essa sabe... que vemos em revistas, propagandas, nas novelas do Manoel Carlos...


Quantas pessoas perderam a capacidade de falar...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

3D

Esses dias eu tava pensando.. Porque fazer cinema?
Talvez eu tenha uma fascinação por mexer com a realidade ou construir uma da maneira que eu ache legal... É! Legal.
Construir histórias, mexer na vida das pessoas, matar alguém, fazer alguém se apaixonar, reconstruir a vida, fazer viverem momentos unicamente felizes que provavelmente nunca teriam a consciência de que viveríam na "vida real"... Acho que as pessoas vêem muito de si mesmas nos filmes... Ou pelo menos vêem quem queriam que fosse "si mesmas".
Transformar a vida das pessoas após o fim de 2 horas de filme através de uma história criada, filmada e montada da maneira que você quis é magnífico.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Desista do suicídio...mesmo você achando que não estava pensando em fazê-lo.

Se você entrar e fechar a porta, descobrirá que sair e entrar pela janela é muito mais divertido. É como se entrasse e saísse de uma tela de cinema de sua própria vida lá fora.O problema é que no cinema tudo nos parece mais claro, um pouco melhor explicado, entendido. Talvez se atestássemos nossa cara no vidro da janela veríamos com mais nitidez que podemos viver o que só se pode perceber como espectador. Talvez se deixássemos de nos aceitar convenientes demais...
Dormir muito faz você perder o nascimento em cores laranja e vermelho de um novo motivo pra viver. Durma de janela aberta e desligue o ar condicionado. Talvez assim o dia resolve lhe acordar sem o barulho do despertador. Quem sabe...

A vida não está te testando. Nem está de brincadeira com você. Ela só segue a maneira confortável e conformada com a qual você quis levá-la - tenha você consciência disso ou não.

O último céu que você adimirou estava escondido entre prédios altos de uma cidade de mesmos passos nas ruas, mesmo dinheiros trocados, mesmas chuvas escorrendo pelos bueiros e você mesmo fazendo tudo, tudo, tudo  - igual ou não - da maneira que nem sabe se é a que desejava.
Talvez estudar bastante, ganhar um bom salário, ser reconhecido no emprego e casar com uma mulher bonita e inteligente seja uma maneira de ter uma vida tranquila...
Essa tranquilidade as vezes parece mais uma injeção anestésica.

Achar que a vida é curta talvez seja uma maneira de transformar todo dia em um pequeno milagre.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Carta à um velho amigo.

Do alto da janela vejo um tempo que se foi. Vejo as mesmas coisas daquele tempo, talvez porque agora eu olho para a janela e não vejo minha vida passar por ela. Fico pensando em como estariam agora... Que rumo escolheram para as vidas que dividiram conosco como se fossem segredos que não podem ser revelados? Sim meu amigo, nós também escolhemos rumos diferentes. Nossos olharem se direcionam para coisas diferentes agora, nossa vida caminha para lugares desconhecidos, mas escolhidos por nós. Nosso amor pela vida agora tem outro significado. 
Crescemos. 
Mas continuamos iguais! 
Ainda te conheço, ainda somos os mesmos amigos de antes, não mudou nada entre nós. 
Mas e eles? 
Que saudade deles.
Usaram ternos conosco na formatura, compartilharam sonhos ao amanhecer antes da primeira aula, fingiam que estudavam conosco quando inventavamos isso só para estarmos mais um tempo juntos depois da aula.
É, meu amigo...
Porque continuamos como antes mas tão diferentes das nossas vidas antigas? Será que fomos nós que mudamos demais antes da hora ou só amadurecemos? Como será que eles devem estar pensando? Já devem ter feito estas perguntas também. Amadureceram também. 
Quando era menor, queria poder guardar as coisas que aparentemente íamso perder um dia numa malinha da qual só eu tinha a senha e poderia abrir a hora que quisesse para visitar. Todas essas coisas agora só existem na minha saudade e nesse texto que pode não estar dizendo nada para você que está lendo, meu caro amigo, ou para os que algum dia irão passar por este blog e ver que estas palavras as vezes choram.
Ás vezes me pego sonhando...sonhando com meu futuro, sonhando com meu passado...Hoje, meu grande amigo, estou feliz de te ter como antes, como nunca deixou de ser. Talvez eu no fundo saiba o que nos deixou unidos ainda até agora... Somos artistas. A arte nos deixou mais sensíveis, nos colocou com mais presença diante das mesmas coisas.
É um prazer continuar vivendo contigo, meu eterno amigo.
Não sei como será quando avançarmos de fase novamente, mas ja ficou claro para mim pelo menos, que nós somos mais do que personagens do passado um do outro.


Do alto da janela, eu vejo a mesma cidade... As mesmas pessoas passando e alguns amigos ainda tentando o vestibular. Do alto dessa janela, ja não enchergo mais uma realidade que era minha. Algumas coisas ficaram para trás (ou seria melhor falar 'lá trás"?)...
Que sorte eu dei em não perder você.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Chama

Como pode tantos beijos e abraços?
Como pode tantos carinhos e daclarações escancaradamente tímidas de afeto?
Como pode alguém ouvir poesias recitadas em seu nome, ver bandeiras levantadas em sua homenagem, brindes feitos à sua pessoa, carregar todo esse amor que lhe é dado de graça...sozinho?
Seria um ego inflável, elástico, sem previsão de estourar
Ou puro egoísmo de querer tudo pra sí, sem saber se é merecedor de tamanha grandeza
Ou até mesmo inocência de não perceber o quanto é capaz de carregar o fardo de ser tão amado?

Se me perguntassem, pedindo uma resposta imediata sobre como é possível alguém carregar tanto amor, dado pelos outros, dentro de si, eu responderia: Só se essa pessoa fosse capaz de dar todo amor dentro dela de volta ao mundo.

sábado, 31 de outubro de 2009

Lua, coelho e bulas de remédio

Não há no mundo
remédios contra desamores.
Não há meu bem
um manual sobre como superá-los.
Mas há no fundo, bem lá no fundo,
naquele lugar, no limite entre nossos delírios e lucidez
a vontade guardada
o desejo de sempre tê-los denovo.
Assim como a lua e suas fases
e o desejo de achar o coelho branco em sua cartola em forma de cratera.
Deitar na grama e passar a tarde esperando ele aparecer denovo
até o dia em que não há mais lua nem coelho.
Depois você descobre que eles reapareceram e corre para ver denovo.
Continuam intocáveis, doces, encantadores.
Com o tempo percebe que eles sempre voltarão
depois de sumirem simplesmente para não se tornarem chatos, enjoativos...mesmos.
E se acostuma com a beleza de terque esperá-los mais uma vez.
O amor é um hábito.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

E em três dias fez-se uma era


Os três dias de musica e paz ecoam até hoje nos ideais de jovens e adultos. Passam através da educação dada pelos pais e avós. Woodstock virou nostalgia, para muitos que foram, para muitos que não puderam ir, e o mais importante, para os que nasceram muito depois da “age of aquarius” docemente chamada de “Geração Woodstock”.
     Talvez só o fato de termos jovens que nem sonhavam em nascer vivendo uma nostalgia do que nunca presenciaram já nos mostra a grandeza deste evento. Como se já não bastasse, o mundo teve o prazer de testemunhar ícones do Rock (que eu particularmente gosto de chamar de músicos da geração woodstock) country e outras excelências musicais subirem ao mesmo palco, sem descanso ou intervalo, durante 3 dias, por uma causa comum...Para falarem sobre a mesma coisa
     É muito interessante ver que por mais que os anseios, e a maneira de se expressar a favor destes fosse peculiar e particular daquela época, vemos uma característica forte e decisiva que nos permite ainda nos dias de hoje acreditar que o sonho tão sonhado(com o perdão da redundância) pelos jovens da época é o mesmo que de todos os jovens de gerações posteriores. Hippies, sujos, maconheiros (essa palavra é feia e pejorativa demais) errados, rebeldes, ou qualquer outro “sinônimo”: Assim eram chamados os jovens que foram a este evento, que proclamaram em voz alta o desarmamento nuclear e de suas ogivas que arrancam cabeças, desintegram almas, e tiram a esperança de pessoas que já sofrem para mantê-la. Os jovens que celebravam a paz, seja ela em qualquer âmbito (da paz entre povos à paz entre as famílias). Os jovens que por fim almejavam, gritavam para os ventos, se esgoelavam cantando juntos com as lendas de Woodstock para que a guerra, seja ela interna em nossos corações ou externa em nossas arrogâncias e estupidez, acabasse e para que um dia todos consigam achar o que aqueles jovens, com tantos sinônimos diferentes, que nunca significavam a mesma coisa e sempre simbolizavam algo a ser rejeitado, tinham descoberto antes de todos que os marginalizavam: a essência do amor.

sábado, 24 de outubro de 2009

24 horas

   Aprendi com um amigo meu. Não há provas nem teorias em meus devaneios que me façam tão cedo querer acreditar que de onde vem inspirações possa haver falhas. Até porque nada que me parece popularmente e impercetívelmente aceita convém a ser falho.
   Sou escorpiano, com orgulho (até porque não conheço ninguém que veja em seu próprio signo um motivo para aderir à moda de se sentir depressivo), e como todo e bom escorpiano a intensidade me dá o prazer e a dádiva de saber nadar nos mares mais fortes, andar no terreno mais aspero, respirar na fogueira mais forte e voar no centro do furação, mesmo que todos esses processos tenham sido iniciados por ele mesmo.
   A questão é: meu amigo olha pra você e em 90% das vezes acerta seu signo em meia hora numa mesa de bar, portanto, não introduzi minhas breves palavras desta madrugada começando a falar sobre meu signo a toa...
   Como toda intensidade que eu mesmo posso criar, eu mesmo posso saber que quanto mais tenho certeza da minha capacidade, e mais sei que sei que estou aderindo à causa, mais tesão me dá em deixá-la fluir. Dessa vez resolvi falar de amor, ou alguma coisa menor mas não menos intensa, já que quando eu descobrir que é amor, acabará o encanto de tentar entender porque comigo as coisas acontecem sem me avisar antes e mesmo assim que ja sei que elas estão acontecendo. O interessante é que eu sempre sei antes que Eros consiga descobrir o caminho dos precipícios onde fico sentado assistindo o sol morrer todos os dias até a próxima grande e intensa rodada de poesia e canções a beira do fogo. Lá dentro, no fundo mesmo, eu sempre sei. Da até pra arriscar entender porque ele casou-se com Psiquê. Psiquê é o "fundo mesmo". É a Alma, classicamente falando.
   O mais fantástico é que depois desta tragédia toda eu ainda posso mudar o rumo do sangue que pulsa a favor dos batimentos acelerados de uma pessoa que sabe muito sobre si mesma. Mas eu nunca quero. Deitar à beira do fogo, perto do fogo, como dizia Cazuza, me aquece o rosto e ajuda meu sangue a pulsar na direção que por natureza meu signo foi "castigavelmente" destinado a seguir e que de tempos em tempos o faz com imenso prazer... Como um ciclo de nascer e pôr-do-sol... Bonito, que não começa e termina no mesmo lugar, mas sempre da mesma meneira, em tons de vermelho, escondendo sua perfeição atrás de cada simples paisagem que permita camuflar a essência do seu verdadeiro propósito com rotinas e distrações diárias. Com o tempo ele passa despercebido todos os dias esperando um momento de imperceptível meditação dos que convivem num grande "tudo a mesma coisa sempre", com os sentidos (incluindoo sétimo) viciados e o coração...viciado. Esse momento nós escolhemos sem saber... Mas eu sei o meu. Eu escolhi os precipícios. De lá eu tenho a sensata ilusão de ver o sol por mais tempo antes de esperar outra vez ele aparecer mais bonito às minhas costas sempre tentando me pegar de surpresa. Enquanto espero...deito à beira da fogueira da qual havia mencionado antes.

P.S (aos distraídos):Falei de amor.

sábado, 3 de outubro de 2009

Virtude

V-O-N-T-A-D-E-S.
O ser humano é cheio de muitas vontades.
O prazer de querer coisas demais ao mesmo tempo me deixa vivo.
Eu quero viver.Viver de vontades, viver as vontades, morrer de vontades...Matar as vontades.
E depois?Sentir saudades...de sentir vontades.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Rota de fuga


Ele virou a esquina e sumiu.Mesmo que, logo em seguida, você vire para procurar por ele, já terá ido.Colocou uma mochila nas costas e foi em busca de alguma coisa merecedora de ser buscada.Entrou na rua mais vazia e, como em calçadas de paralelepípedos, foi construindo, pedra por pedra, uma a frente da outra, uma nova trilha, sem precisar colocar placas de "cuidado obras", nem desvio de passagem para pedestres.Declarou-se desaparecido, sem cartazes de procura-se nem mapas de como lhe encontrar.Quis que não o encontrassem.Pegou a trilha do "lá longe" até chegar em Neverland.Queimou dinheiro.Dormiu em kombis de hippies, lavou a calça em rio de água corrente e brincou sozinho de ver desenhos em nuvens num céu azul turquesa que avisava a chegada da chuva.Tomou banho de mar numa praia deserta, depois tomou banho na chuva.Secou a roupa estendida em galhos de árvore, e dormiu à sombra de bananeiras.Viu o sol se pôr aos pés de montanhas e viu o sol nascer debaixo de lençóis de água.Plantou árvores, abraçou árvores, conversou com árvores e comeu frutas de seus pés.Levou picadas de bichos que não conhecia e fez amizades com bichos que nunca mais voltou a ver.Experimentou comidas diferentes e mulheres exóticas, conheceu homens inesqueciveis e lugares incríveis.Percorreu quilômetros, deu a volta ao mundo e escreveu um diário.Perdeu o sotaque(que nunca teve) e ganhou sotaques que nem sabia que existiam.Passou frios e calores, viveu amores e desamores, odiou, aprendeu a gostar, sonhou, acordou sem saber onde estava, se envenenou, se curou de doenças que nem imaginava que tinha e descobriu coisas que nem imaginava que sabia.Escutou músicas que ele mesmo fez, leu poesias feitas por analfabetos e se daparou com cenas cinematográficas, ao vivo, que nem foram filmadas.Construiu objetivos, preservou subjetivos, esqueceu-se de promessas e sentiu saudades...Morreu de saudades, morreu de amores, viveu de felicidades e de aventuras.Quis voltar pra casa e teve medo de morrer onde tinha acabado de chegar.Aprendeu a viver com quem não tinha pelo que viver.Descobriu que a vida o esperava na virada da próxima esquina.Depois mais de um ano e alguns meses voltou pela mesma rua que foi, mas que desta vez ele mesmo tinha calçado, pintado...reformado.Entrou pela mesma esquina que sai e no final da rua encontrou as mesmas pessoas que tinham ficado.Finalmente poderia explicar o porque de não terem lhe encontrado, mas não soube.Só soube falar que a pessoa que tinha ido não era a mesma que tinha voltado, e que agora a rua pela qual ele tinha passado recebeu seu próprio nome.Quando perguntaram onde tinha ido respondeu "Alí, virando a esquina, passando uma rua que parece esperar reformas com uma placa sem nome".

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Desilusão


Hoje descobri que algumas promessas são feitas só para deixarem saudades.
E que as flores só murcham quando o outono chega(não se precipite), e sempre (re)aparecem na primavera.Me toquei que só chove quando o céu esconde o sol, mas que as vezes a água pode iluminar mais do que raios do sol tocando as flores recém-nascidas.
E que cores de Almodóvar existem permanentemente na paisagem de cada visão , com chuva ou sol, depende de como você as vê.
Parece óbvio quando se descobre, mas eu me sinto agora como uma criança que acaba de descobrir que existem 1001 possibilidades de qualquer coisa, e que nenhuma delas importa naquele momento.É óbvio.Mas quem disse que é para ser descoberto por todo mundo?Acho que existe uma barreira que impede as pessoas de se desiludirem.Tem gente que não aguentaria.Hoje só descobri coisas que já sabia...só não sabia que ainda não tinham sido descobertas.

Dias de sol

"Depois da tempestade vem a calmaria".Será que vem mesmo?
As vezes da a impressão de que a chuva só veio pra nos preparar para o sol.A cada janela aberta de manhã o sol é diferente.A própria janela é diferente..a paisagem da janela.Penso nas pessoas andando na rua de manhã, parada nos pontos de ônibus, dentro dos carros, com suas sacolas pesadas de compras.Algumas delas passam pelo dia inteiro e nem se dão conta de que existe alguma coisa iluminando o lugar onde elas ainda estão procurando ir.Fico me perguntando se depois de tantos momentos na história da sociedade de demostração de amor e sensibilidade, até com as mínimas coisas, e não ha como negar que um deles aconteceu a 40 anos(Woodstock) - um tempo tão curto entre isto e nós não é? - , as pessoas tenham regredido a um individualismo babaca, um estado de aridez permanente e paralização do lado do cérebro que da conta de sermos seres humanos.Não me conformo com os jovens de hoje, filhos da geração de Cazuza, Raul, Renato Russo, Cássia Eller e tantos outros, netos da geração de Janis Joplin, Jimmi Hendrix, The Beatles, Neil Young e etc, sejam tão...precocemente pragmáticos e dotados de um cumprimento de um acordo pré estabelecido não sei por quem que faz com que todo mundo seja igual.Mesma carinha, mesma roupinha, mesmo jeito de andar, rindo das mesmas coisas, falando as mesmas coisas(por mais que a essa altura não lhes sobre espaço nenhum na cabeça que caiba algum assunto interessante).Um bando de gente "desinteressante" filhos e netos das gerações mais interessantes que ja se ouviu falar. Caretas e sem sentido de vida nenhum.Afinal, que graça tem em viver para sí mesmo?Ainda estou esperando (esperançoso) que, antes de eu ficar velho demais, eu possa ver a minha geração usando a herança que lhes foi deixada, e eu possa olhar pela janela e ver que o sol hoje está diferente e não está sozinho.

Poesia para apreciar.

"O primeiro censo é a fuga
Bom, na verdade é o medo, daí então a fuga
Evoca-se na sombra uma inquietude
Uma alteridade disfarçada inquilina de todos os nosso riscos
A juventude plena e sem planos se esvai
O parto ocorre
Parto-me, parto-me
Aborto certas convicções
Abordo demônios e munias
Flagelo-me, exponho cicatrizes
E cuido dos meus com muito mais cuidado
Muito mais atenção
E atenção que parecia nunca não passar
O servil que passou para servir
Para discernir
Para harmonizar o tom,
Movimento o som
Toda terra que devo doar
Todo voto que devo parir
Não dever ao de vir
E nunca deixar de ver
Com outros olhos
Com outros olhos"
Fernando Anitelli-O Teatro Mágico

Até lá

Uma coisa nova.A leitura no ônibus, um vinho de madrugada, um filme, uma conversa, um olhar pra fora da janela.Até reconhecer estranhezas que nunca lhe pareceram importar.Estranhezas que lembravam algo familiar, mas que esperam por um único acender de lamparinas acima da sua cabeça, e subitamente cria-se algo legível...inteligível.Até tudo entrar em acordo, e as palavras brotarem como um temporal de final de inverno que cresce aos poucos lavando as ruas pra chegada da primavera.Até tudo se encaixar em um único pensamento, harmonizar o tom, afinar o som, descobrir o dom...Cria-se..Arte.Criarte.