quinta-feira, 29 de abril de 2010

Cultuado

Texto postado no blog: http://linguaspresas.blogspot.com

Não me pergunte sobre minhas raízes cláustrofóbicas
Que crescem para baixo
Enveredando-se na base desequilibrada
Do que chamam de amor

Na prática de amar
O contrário do que se diz
É a verdadeira face
Do que não se vê

É quase tudo
De frente para o espelho
Vendo-se quase nada

É o copo de vinho esquecido
Pela amnésia da embriaguez
Calibrada
Do poco de vinho tomado.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Alarme

Diante das folhas secas do outono
Meus moinhos de vento pulverizam-se
No ar quente que esfria lá fora

Diante da folhas secas do outono
Meu ar quente se pulveriza
Nos frios moinhos de vento

Ele toca
Toca
Toca
...Está na hora...
Cala a boca.

Diante do frio seco do outono
Minhas folhas caem num balé sincronizado
Secando o asfalto molhado
Das águas passadas de outra estação

Diante do chão seco do outono
A fria pintura que aparece na minha janela
Esquenta meus desejos,
Acalenta teus anseios

Diante das árvores nuas do outono
Penduro enfeites de natal
Cubro-me nú com seu sono
Deitado em nossa cama de casal

Diante da cama quente do outono
Contemplo a nudez ingênua
A minha sala pequena
De onde te vejo: o sol

Deitado ao lado da minha morena
No frio seco da paisagem da estação
As folhas secas caem pequenas
Os moinhos de vento giram, e (pelo menos)
Eu acordo, caio, e não passo do chão.

Ele continua tocando
Eu acordei, levantei
E esqueci de desligar.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Luz dos olhos

Apague a luz.

Quando a gente apaga,
a gente encherga o mundo,
por de cima de tudo
que cresce sem nossa autorização.

O que se perde enquanto os olhos piscam
Pode ser o momento
Que vislumbra a criação do mundo,
Realiza sonhos profundos
E mata a saudade daquilo que nunca se teve.

Pode ser o instante
Irreal que nunca se terá
E não há de ser nada
Que não se possa conseguir
Se vocêestiver de olhos bem abertos.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Pior falta

"O aceitável me sufoca
Rarefeito, e
O que me consome
Não é o meu desejo
É a falta." 




O pior medo é do que não se conhece. A pior falta é daquela que nunca se teve. Tirar uma foto e torcer pra capturar o instante exato em que seus pensamentos se encontram com os meus talvez seria a solução para ter-te. Tudo o que desejas ja foi seu, esta sendo agora, ou será por pelo menos um segundo. Eu ja posso ter tido, posso estar tendo (e nesse caso teria um azar do caralho de não estar presente no presente mais importante de agora) ou poderei ainda ter. Eternizar esses poucos segundos em uma foto me parece o suficiente por enquanto.

Irreal

Ao ouvir sua voz, atada à minha espera
Pelo intermédio de uma linha (que seja) estranha, cortada
Soa como um remédio para minha insônia pré-programada
O unico motivo de estar acordado.

Um copo vazio se enche de palavras não ditas
Tomado como gelo para embebedar sinfonias
Alcançar suas epifanias
Dominar capitanias
Presenciar o ato, instante exato
Que te faça querer o que quero

E assim
Tornar-se-á viva em mim
Só durante a noite que acaba
Quando começamos a nos tornar reais uns para os outros
E irreais para os nossos olhares perdidos
Procurando o que se esconde bem à nossa frente.

Quero tua poesia, teus segredos bem guardados
Insisto em pensar no que escrevo
Como um concurso de palavras que faço comigo mesmo
Tentando achar o que te decifra.

O aceitável me sufoca
Rarefeito, e
O que me consome
Não é o meu desejo
É a falta.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Do luto à luta

A capacidade das pessoas de buscarem a felicidade hoje em dia deveria ser comemorada!
A depressão ja virou o mau do século. Uma cara fechada, um dia cansado, uma lágrima ja representa falta de felicidade. "Anda, tira essa cara. Vai ser feliz." "Que carinha triste é essa? Você precisa buscar sua felicidade". 
Uma busca interminável pela felicidade que se esvaire como nuvens quando você as tenta agarrar com as mãos.
Estar sozinho agora tem o mesmo sentido de estar solitário. 
O momento de intimidade do eu consigo foi apagado pelas luzes do computador que te mantêm sempre em contado com a busca pelo distanciamento da solidão.
Todos tem a obrigação de buscarem a felicidade.
Quando te perguntam quais são seus sonhos, ou o que você quer pra sua vida, você responde: "Quero ser feliz."
Feliz todo mundo quer.
O que você realmente quer?
Antigamente existia o luto: As pessoas reservavam um período para se recuperar da perda de alguém que fazia parte de sua vida e foi-se levando consigo algum pedaço da vida dos outros. Para se recompor. Para respirar, saber como será feito agora, saber lhe dar com a vida sem aquela pessoa que ocupava um espaço ali. 
Hoje em dia não há tempo. Não há tempo para lágrimas, para concentração, para um momento introspectivo de não sorrir, de ficar triste, de estar desanimado. Não há mais luto. Agora é "vai à luta".
Porque tudo é motivo para procurarmos um psicólogo? Estamos bem. Estamos desanimados, tristes, chorando, fodidos, que seja! Nossa autoconstrução gradual e a longo prazo também prevê a pequena dose de infelicidade diária que nos afeta todos os dias. Sim, porque existe aquela dose diária que só nos afeta quando a felicidade realmente não é possível. A insistência não prevê a falha. Essa pequena infelicidade que é essencial mas que está sendo desprezada por ser comparada com um vírus letal ao sorriso que és obrigado a dar sem motivo.

Nos deixem ser felizes em paz!

O som do silêncio

Constatação: Noite passada estive diante de algo que não merece constatações: O amor.

  Uma trilha sonora irlandesa embala a noite. Debaixo de um chão de compensado de madeira o protagonista de uma das maiores divindades do ser humano tocava a própria trilha para quem quisesse ouvir. E quem não ouvisse tbm. Um músico. E como todo músico, gosta de ser ouvido. E como todo músico, se arranjasse uma mulher, arranjaria uma mulher que lhe acompanhasse, lhe ouvisse, prestasse atenção no que mais gosta de fazer. 

- Já presenciei uma cena assim antes: Ela fitava-o com olhos de comer uma torta alemã com amoras. Ele tocava uma bossa nova, e ela dançava com os olhos o ritmo da melodia feita só para ela naquele momento. O homem trabalhava, a mulher o acompanhara, mas pareciam estar sozinhos num quarto, no momento mais intimo do seu amor, provando da mais luxuosa cena de amor protagonizada pelos próprios na cama com um único abajur em uma escrivaninha mal iluminada. As cortinhas balançavam ao som do vento (parte da música) dançando uma valsa ao ritmo da bossa em volta do violão. Isso acontecia na minha frente. Era uma simples troca de olhar entre um músico em um bar (trabalhando) e sua mulher assistindo-o à 2 metros de distância. - 

  Mas dessa vez eu presenciei dois mundos unidos por duas interpretações diferentes da mesma coisa. A música (amor). Dizem que o amor é vibração. E eu digo que acredito.
  Ela estava lá parada enrolada nos caracóis dos cabelos dele, prendidos por um chapéu panamá. Encostada em uma pilastra. Ela sorria. Sorria escutando-o. Mais do que qualquer outro ali, ela o escutava. Ele e sua banda faziam seu som. A principio se parece com a história do outro casal que contei em cima se não fosse por um fator: Ele ama o que faz. Ela o ama e vice-versa. A "vibração do amor" para os dois é amor sentido e vibração sentida. 
  Ela estava lá, parada enrolada nos caracóis dos cabelos dele, encostada em uma pilastra sentindo as vibrações do som, do que ela mais ama fazer, do amor dele. Ela lia os lábios dele ao mesmo tempo que a pilastra lhe dava o som de sua música. Ela ouvia a música dele, mas nunca vai ouvir a musica que ele ouve. Mesmo assim eles ouvem a mesma música por intermediação do amor que sentem, do qual os olhos não mentem. Ele era músico, ela deficiente auditiva de nascença. Ele escolhera para si uma mulher desprovida do instrumento mais importante para um músico. A mulher que o acompanhará, que o escutará nos momentos mais íntimos. A mulher que não o ouve. Ela lê lábios, sende vibrações do som, lê seu coração e sente as vibrações dos dois corações. Ele aprenderá uma nova música com ela. Um privilégio que poucos músicos tem.

  Um privilégio que poucos seres humanos tem: Ter esse amor. 
  Eu tive. Eu vi. Eu senti os dois. Eu chorei naquele dia. Minhas lágrimas caíam cortando a gravidade cantando. Descobri um pouco mais sobre o amor naquele dia.

  Só mesmo o amor.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

(...)

Quando seus pensamentos caminham todos para uma mesma direção,
Seus textos seguem todos uma mesma linha de raciocínio
(ou delírio)
Seus cigarros soltam todos fumaças coloridas com desenhos
A cerveja fica com gosto de vinho (tudo fica com gosto de vinho)
(...)

Nessas horas provavelmente você está apaixonado.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Carta à um velho prefeito e seus amantes

Essa postagem será destinada à minha revolta:

  Excelentíssimo Senhor Prefeito, Jorge Roberto Silveira. Obrigado por renovar o ASFALTO DA PRAIA DE ICARAI, agora não corremos mais risco de nossos prédios deslizarem pelo asfalto velho. Sendo assim, acho que muitas pessoas votarão pelos senhores, de novo, nas próximas eleições afinal eu ando por Icaraí e vejo nos rostos alheios a preocupação, o medo e a tensão canalizada. Pelo que me consta Icaraí foi o único bairro que não sofreu com nada, a não ser uma "laminha" no asfalto e um pouco de água que rapidamente escoou pelas galerias muito bem estruturadas de Icaraí. Só de Icaraí, mas acho que é o que importa não é

  Queria lhes agradecer também por usar de maneira muito proveitosa, devidamente qualificada e informativa o site da prefeitura. Lá (minutos antes do morro do Bumba desabar pelas lágrimas das pessoas que realmente perderam casas, filhos, dinheiro e tudo que tinham) eu vi no site que vocês se preocuparam em nos informar que o PARQUE DA CIDADE estava fechado para visitação. Muito obrigado, senhores!!! Eu realmente estava pensando naquele dia -e pra ser sincero até combinei com um monte de gente- em subir o parque da cidade para apreciar o céu nublado, o mundo caindo, me molhar de lá de cima e descer de bunda escorregando pelo morro até São Francisco. Vocês se preocuparam, enquanto o morro do Bumba estava prestes a vir a baixo, em nos deixar informados para não fazermos visitas e piqueniques à um dos maiores cartões postais da cidade.

  Gostaria de deixar registrado aqui, também, o meu apoio aos senhores por dizerem que não dispõem de dinheiro para ajudar as famílias de maneira mais consistente. É claro, o dinheiro de que precisam está já sendo requisitado para construir a tal torre panorâmica (de frente para a vista maravilhosa da cidade maravilhosa - ou pelo menos nesses ultimos 4 dias não mais) onde Oscar Niemeyer construiu sua última proeza arquitetônica (nada contra nosso mestre). Obrigado por se preocuparem com o lazer dos niteroienses da zona sul (que aparentemente serão os únicos a frequentar tamanha obra de arte) que não tem muitas opções de lazer. "Coitadinhos".

  Já que elogiei tanto vossa eficiência, gostaria de fazer algumas críticas agora. Não se preocupem, são um tanto quanto irrelevantes tamanha são suas buscas por resolver os problemas da nossa cidade. Ontem o vi (Roberto Silveira) na televisão falando sobre os deslizamentos. Acho que o senhor fez uma cara muito sínica, não falou muita coisa que realmente fosse importante e deu alguns sorrisos que não podiam ser dados. Senhor, com algum conhecimento que tenho de linguagem corporal eu posso lhe dizer que, apesar de poucas pessoas o terem como eu, todos percebem quando se está falando sobre algo relevante e sério e há um leve sorriso no canto dos lábios. Tome cuidado com isso da próxima vez.

  Se me permite fazer mais alguns comentários, aqui irei: O governo (aí com o perdão da minha falta de atenção, eu não vi se foi federal ou estadual) disponibilizou alguns milhões para restaurar a região metropolitana. É claro, creio eu, que maior parte desta verba irá para a Lagoa e orla do Rio de janeiro, já que acabou de ser dito na televisão que a frequência destas chuvas e da ressaca que atingiu a cidade (nunca vista, por sinal) serão cada vez maiores. Acho muito válido que essas áreas sejam preparadas, ja que é importantíssimo garantir a segurança da população (da zona sul) e manter a eficiência das ações dos senhores e seus subordinados. Também ouvi dizer que disponibilizarão "kits enchente". Muito bem pensado! "Distribuímos esses "kits" e pronto, ajudamos!". (Desta vez farei uma análize um pouco mais preocupante:  Distribuir "kit enchente" significa aceitar as cada vez mais frequentes enchentes. Mais do que isso, distribuir isto é não fazer mais nada além disto. "Já ajudaram. Eles que se virem agora com o que demos, convivam com as enchentes com o maravilhoso "kit enchente" que receberam!" Pra que reabilitar, colocar esse povo em outro lugar, reconstruir...? Genial. Eu fico impressionado com a genialidade dos senhores.).

  Eles ja estão acostumados a sofrer não é? Se acontecer de novo é só aparecer na televisão, fazer uma cara de sinico, dizer que estão fazendo o possível. Como eu adimiro o senhor, senhor Prefeito!!!
  Hoje eu olho para os senhores e me arrependo de ter falado tão mal e não ter te votado. "É realmente o caso de amor" mais emocionante que eu ja vi na minha vida. Minhas lágrimas caem salgadas, úmidas de pesar. "Desses que ninguém destrói", a não ser que outra chuva torrencial caia e deslize algum barranco de revoltas sobre a cede de sua prefeitura.

  Infelizmente tenho que lhe falar que não votarei, de novo, nos senhores nas próximas eleições. Porque? Porque eu creio que estaram isolados, em Nova York, ou bem longe de Niterói. É compreensível já que, se continuarmos assim,  Niterói vai explodir em merda, ser soterrado por Petrópolis e Teresópolis, ser invadido pelas pessoas que não tem casa (motim) ou ser engolida pelas trombas d'agua e ressacas que atingem nossa orla. Graças a Deus o senhor estará protegido. Os homens que mais amam a cidade precisam continuar sua luta.

Grato pela atenção,
João Arthur Lourenço Soares (uma das pessoas que quer o senhor e sua gangue bem longe daqui.)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Sem culpa de ser culpada

Chuva não molha, lava
A alma
Chuva ajuda a acordar
Chuva faz crescer arvores,
Faz encher rios vazios
Aumenta o verde das plantas
Brilha o asfalto envelhecido pelo tempo
Chuva garoa refresca, é cinematográfica
Chuva forte banha, humedece a quentura da vida
Chuva temporal alaga, desce encostas, desliza terras
Destrói casas, bóia carros, mata pessoas.
 
Mas a culpa não é dela, é nossa.












Pensem nisso.