sábado, 27 de fevereiro de 2010

A Obra

Uma pintura.
Riscos em vermelho bem tingido
Que se afastam em direção oposta
Mostrando em seu interior manchas brancas que brilham quando sorriem.

Mais acima escorrem ao contrário pela tela ainda fresca
Traços em rosa e azul mal delineados que se ligam de uma ponta à outra
Apertados e bem abertos
Revelando um castanho escuro pela falta de luz
Mas claro pelo brilho da verdade que transparece
Como quem analisa e adimira ao mesmo tempo uma pela pintura.

Em volta da tela vê-se tinta escorrendo
Como algo que foi lançado em forma de bombardeio
Explodiu e seu sangue marrom claro, brilho do sol
Agora percorre (como quem segue o trilho de uma montanha russa em caracóis)
Toda a tela até o final.

Por entre a tinta que desceu ainda vê-se todo o resto da vivacidade de cores das quais citei
E das quais não citei
Pelo simples fato de ter medo da descoberta inevitável
Que farão ao ouvirem o resto da minha descrição e logo após tiverem a comprovação.

Sinto o cheiro de tinta, ainda fresco
Como se a obra tivesse acabado de ser feita
E ainda não tivesse dado tempo de ser copiada
Justamente por não ter sido exposta.

Talvez o quadro nunca seque
Pra mim ele permanecerá
Ainda fresco
Como se a obra tivesse acabado de ser feita
E nunca será copiada, por mais que se exponha.

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