segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Um papel e uma caneta

Agora sim
Sinto-me e enchergo-me sem nenhum pudor
Assim como Adão sente e encherga sua própria nudez

No passeio enraizado
Dentro de um avião que dá piruetas pelo céu
Descubro em letras tremidas no papel
A completa inocência do meu ser
(Não que ela seja ruim)

Boio em marolas massageantes
Deitado num colchão de águas calmas
Azuis como o brilho eterno
De uma lua que ilumina a tinta no meu papel riscado
Uma lua que só se vê quando não se dorme

Vejo em cada letra
Uma página de um belo livro de histórias
Traduzido em desabafos mudos e solitários
Por mãos iniciantes na arte de se descobrir novo
Por pensamentos surpresos em se descobrir criador

Passeio pelas copas da árvores
Como quem pisa em nuvens
Esquecidas por sua grandeza
Veneradas (quando percebidas)
Pela sua beleza

Estico minha mão para pegar algumas maçãs
Em meio a malabarismos no sinal vermelho
Focalizando cada fruta ao jogá-las para cima
Como miniaturas do meu mundo, agora mudado
Mutável

Me sinto como um menino atento
Atento e inocentemente menino
Com seus olhinhos fixos em sua arte
Cabeça levantada
Boca aberta
Língua pra fora presa aos dentes

No exato momento em que joga seus mundos para cima
Como se quisesse malabarizar sua vida
Transformá-la
Pelo simples prazer de ter descoberto
Que ela agora parece ser muito mais
Do que uma maçã tirada da árvore

Descobri na maçã outra vida
Achei o coelho na lua
Reescrevi textos dos livros de páginas em branco
Apagadas pela mesmice do dia seguinte

Agora sim
Sinto-me e enchergo-me sem nenhum pudor
Assim como Adão sente e encherga sua própria nudez
Assim como um louco sente e encherga a própria lucidez
A magia, inocência e despudor de um beijo pela primeira vez

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