quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Um terremoto em terra oca.

  Ontem em bateu uma saudade de amigos que eu não via a muito tempo. Sabia onde encontrá-los. No local estava tendo um show de pagode: o que ultimamente não parece surpresa pra ninguém que mora em Niterói/RJ. Fiquei lá fora até 1h30, quase 2h00 da manhã. Resolvi entrar e tomar uma cerveja, conversar com eles e dizer como o preço da entrada estava caro para "fazer a mesma coisa que todos os dias se tem pra fazer nessa cidade". Eis que me surge, logo após o show, um outro show (que eu ja sabia que ia ter) mas que não me tirava a curiosidade dos olhos. Queira saber o que ia acontecer num espaço que a 3 dias atrás recebia-nos para falar poesia, tocar músicas lindas e fazer algo que poucas vezes se vê pelo Rio de Janeiro.
  Encostado na grade fumando um cigarro, do lado de fora ainda, meu amigo vira e chega perto como quem vai contar um segredo. Algo que à distância parecia ser algo importante a ser dito. "Eu bolo como "..." está ficando forte." Eu olho e vejo outro amigo,  visivelmente mais baixo que eu (a considerar que eu tenho 1,87) de boné branco e camisa um pouco mais larga do que seu tamanho pediria. Ele não era "forte". Nem chegava perto disso. Percebi que ele estava querendo dizer o contrário. Percebi que o que importava para ele naquela hora, do lado de dentro do estabelecimento (e eu fora), fumando um cigarro igual o meu, ouviu as mesmas professoras falarem besteiras (ou não) quando criança, como eu, era se o nosso amigo do lado estava ou não musculoso, ou pelo menos perto disso. Nada no mundo era mais interessante do que isso.
  Entrei na esperança de ver algo novo, ou algo que pelo menos me desse esperança de que alguma coisa naquela noite seria mais interessante para pessoas alheias a mim e não ser "pegar alguma cachorra dessas" ou se "o cara do lado é mais forte do que eu" (sem é claro transparecer essa preocupação). Ou se "o cara que está chegando na "sua mulher" não vai pegá-la porque nó próximo segundo que ele descuidar eu entro e digo que a levo pra casa de carro".
  Começou o show. O problema é que aquelas pessoas que não tinham nada mais importante no mundo para pensar (e não precisa ir para algum lugar que se inspire pensamentos diferentes, quando se exercita-os e coloca-os em prática em qualquer lugar. O charme de hoje em dia é o que diferencia da maioria: saber conversar.) tiveram sua atenção na abertura do show voltada para as primeiras frases ditas pelo cantor.
  Coisas como "mulher gosta de dinheiro porraaaaaa!", "mulher de verdade gosta mesmo é de piroca" e por ai vai... Sobem mulheres gostosonas (e a essa altura eu já não sei se elas são realmente só porque tem uma bunda enorme) e começam a dançar ao ritmo da música enquanto o cantor dá tapinhas em suas bundas.        Parecem marionetes voluntárias. Ficam ouvindo serem tratadas como se estivessem sendo descritas por porcos ancestrais de 500 anos atrás ou mais. Dançam ao ritmo da ridicularização do ser mulher. Tratam-na como se fossem brinquedos sexuais dispostas em fila para dar um show de unitilidade sexual.
  Existem várias maneiras de se interpretar e usar palavras para descrever alguma coisa. "Putaria" não é a melhor para se definir um tipo de sacanagem que jovens gostam de fazer. Além do mais, de tanto ouvir, estes jovens acabam fazendo realmente putaria o invés de uma "sacanagem sadia". Parece estranho falar assim.
  Mas creio que começa pelo respeito a mulher. Ela não está ali porque serve para "bagunçar" "exculhambar" gozar e pronto. Ela está ali porque quer primeiramente. Fazendo qualquer tipo de coisa com alguém porque quer (talvez aquela coisa, que os caras "ocos" em volta dela, tem entre as pernas só sirva para satisfazer as brincadeiras que ela mesma quer naquele momento). Talvez se as mulheres fossem cantadas com mais respeito, sem mexer na cultura da música, do ritmo, da dança mas colocando mais poesia, mais melodia, mais coisas bonitas para se ouvir, o comportamento seria diferente.
  Eu dançava isso. Saber dançar, ter ginga, rebolar é uma característica dos povos latinos, dos brasileiros mais especificamente, e muito valorizada tanto no exterior tanto para homens quanto para mulheres. As maneiras criadas para de aperfeiçoar isso são muitas. Mas ultimamente, como disse Jorge Ben Jor, dança e ritmo não são o suficiente e eu particularmente não considero mais o que era antes. Voltando ao assunto:
  Ontem eu ali parado, eu que sempre dancei bem até por sinal, sentia como se não conseguisse nem mais soltar o quadril ou mexer a perna. Era como se eu sem perceber tivesse me recusado a dançar ditado por uma letra que leva a mulher até o pior dos patamares sociais, sexuais, culturais e faz com o sexo a mesma coisa. não estou querendo pregar nenhum tio de pureza ou santidade. Mas sou a favor de saber a sutileza das coisas. Saber se expressar, tranformar em letra, em música.
  O show acabou e a quantidade de coisas ditas, em palavras, vomitadas que eu ouvi podiam muito bem se encaixar em uma única música de 5 minutos, ou seja... Acabou e pairava uma sensação de que nada de interessante tinha acontecido e tudo que tinha acontecido só serviu para deixar mais "animais" os "animais" que ali pagaram, entraram, beberam, olharam para as mulherem como uma leoa caçando um gnu, e não pensaram nem conversaram sobre nada realmente interessante (pelo menos até onde eu ouvi).

  O estabelecimento foi se evaziando até fechar. Mais de 10 pessoas subiram naquele palco. Em nenhum momento, das 22h00 às 5h00 nenhumas dessas mais de 10 pessoas que tinham em suas mãos um microfone conseguiu se quer lembrar e lembrar aos outros que os assistiam que enquanto eles estavam fazendo aquilo, tinham outras pessoas morrendo por não fazê-las. Um pensamento simples que não exige muito esforço mental nem questões filosóficas no interior dos pensamentos para se ter uma boa conversa. Todos os dias os jornais e o mundo nos lembra o que está havendo lá. Mas nenhum deles conseguiu seque tocar no assunto ou dar as informações necessárias para se doar 10 reais. Preço de 3 cervejas que eles beberam para ficarem "doidões" e pegar alguém (estratégia infelizmente falha em 80% das tentativas). 
  
  A caminho (caminho da maioria dos que estavam lá por sinal) está a Heitoria da UFF. Na entrada dela, pendurada na grade existe um cartaz bem grande dizendo que lá se aceita doações para o Haiti. Quem não quiser doar dinheiro doe água e comida lá.






Doações para a Embaixada da República do Haiti:
Nome: Embaixada da República do Haiti
Banco: Banco do Brasil
Agência: 1606-3
CC: 91000-7
CNPJ: 04170237/0001-71

Doações para o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV):
Nome: Comitê Internacional da Cruz Vermelha
Banco: HSBC
Agência: 1276
CC: 14526-84
CNPJ: 04359688/0001-51

 O Viva Rio, que está desde 2004 no Haiti, onde desenvolve projetos sociais ligados às áreas de segurança, desenvolvimento e meio ambiente, também abriu uma conta para quem quer fazer doações às vítimas do terremoto:
Banco: Banco do Brasil
Agência: 1769-8
CC: 5113-6
CNPJ: 00343941/0001-28
A ONG Action Aid criou um site e disponibilizou o telefone 0300-7898525 para doações em dinheiro para as vítimas do terremoto.

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