terça-feira, 17 de maio de 2011

O começo do fim

Pergunto a você se suportaria a vida sem ser como ela é. Sem querer sair de casa e morar sozinho com 21 anos por conta da incapacidade de conviver com seus pais.
E tudo começa com a relação com os pais, obviamente. Você quer sair de casa porque não agüenta mais a família e acha que será maduro e independente ralando que nem um escravo pra ganhar alguns dinheiros e poder comprar o que te dizem que deves comprar.
E tudo começa com o dinheiro, obviamente. Aquela certeza cega de que a vida é merecedora de alguns pedaços de papel e tudo de mais valor no mundo pode ser trocado por ele. A partir daí tenta-se trocar dinheiro por sentimento, coração, alma. E descobre-se que não pode. E a tentativa de tomar à força provoca a imbecilização das relações humanas até que essa hereditariedade seja congênita.
E tudo começa com a ilusão, obviamente. Não sei se fajuta ou real. A questão é que quando é preferível não ter o controle sobre si mesmo e vê-se na facilidade de viver o motivo pra existir de forma mecânica e desumana, todas as ações da vida se baseiam num único e desprezível ponto: como vou fazer pra ganhar dinheiro? Como vou fazer pra sobreviver. E nessa selva, mato de espinhos, o homem canibaliza-se pra matar a fome de convicções.
E tudo começa com a convicção, obviamente. De que o trabalho e as formas que se criaram para interpretar tão ação no mundo moderno dignifica o homem; o dinheiro é necessário pra sobreviver; quem não corre atrás não conquista seu espaço; a mulher veio da costela do homem; o negro não é mais discriminado; o homossexualismo não é natural; a lei do silêncio proíbe a música a noite mas não as buzinas dos carros...
E tudo começa com as buzinas dos carros. Ensurdecem, calam-nos, gritam um carcarejar maquinal, metálico.

De carne e osso só restaram alguns livros, filmes e instrumentos musicais.
E como diz Affonso Romano de Sant’Anna, “Inauguramos a era da solidão coletiva”.

3 comentários:

  1. Muito interessante o blog !
    Deixo o meu aqui caso queira dar uma olhada, seguir...;

    www.bolgdoano.blogspot.com

    Muito Obrigada, desde já !

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  2. ameiii! eu smp entro no seu blog adoro "cara certo"

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  3. Meu querido e jovem parceiro de estrada.
    Eu fiquei aqui concentrada postando um comentário sobre sua dissertação acima. Ela se foi por uma bobeira minha, espero que com ela tb não tenha ido minha inspiração, pq nada me irrita mais do que perder minhas palavras ao vento.

    Eu falei, ah! não adianta, falo por impulso e compulsão, as vezes, só depois faço correção. De maneira, que suscintamente e acho que compreendendo sua questão, vou dizer-se assim:... dinheiro faz falta sim!

    Eu tinha 33 anos, idos de 80, meu pai era pai avô(ih, tô me dando conta que isso fica publicado, não sei se vou gostar disso). Até aquele momento, vivi para servir meu desejo artístico, mas, a mesma arte que me movia no sentido oposto à sociedade burguesa, me fez compor um poema cujo pequeno verso vem a minha cabeça: ...mas... e a carteira assinada, o pis pasep, o inps? Estava formulada a questão de ordem do mundo capitalista. Eu, mais cedo ou mais tarde, precisaria sobreviver e já tinha vivido o suficiente para ver que com arte, apenas, uns vão, outros ficam, outros se iludem e uns tornam-se orfãos e dependentes da bondade de seus iguais.

    Destarte, já com uma certa, não tanta idade fiz graduação, mestrado e continuei, por questões, essas sim não publicáveis, mto divagar na música. Porém compunha e cantava mto raramente.

    O fato é, que qdo me dá na telha eu como no Mac Donald... rsrss... não que eu ache isso gde coisa!

    Não obstante tb creio que o mundo , ao contrário do que pensa o Affonso Romano, não é apenas formado por um embuste de solidão coletiva, basta ver que te vi, basta ver que vi tantas e tantos e mtos outros e ainda verei e sentirei e juro-te, creia-me essa é a maior verdade da minha vida!

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